terça-feira, fevereiro 10, 2009

Austrália - a terra dos fogos

A Austrália, o mais pequeno dos cinco continentes, mas a maior ilha do mundo, vive o Inferno. Mato e floresta ardem como fogos vindos do céu e a sua violência extrema, já causou o maior número de mortes de sempre. A temperatura, acima dos 46 graus Celsius, o valor mais alto desde que há registo, tornou a terra ainda mais quente e a seca, que se prolonga há sete anos, tornou-se ainda mais grave.

Há seis anos atrás, Dean Sewell, um nativo da terra dos fogos, fotografou este canguru,


Dean Sewell, Canguru, Janeiro 2003, Austrália

reduzido a estátua, depois do terrível incêndio, em Janeiro de 2003, atingir Canberra, a capital do país.

Na Austrália, o tempo meteorológico, é assunto político. A chuva, que deixou de cair, tornou o país cada vez mais vulnerável.


Nick Moir, Tempestade de areia, Uma herdade abandonada em Ivanhoe, durante uma tempestade de areia em 2002. Esta zona está em regime de seca desde 2001, forçando o abandono de muitas propriedades.

Em Abril de 2007, o então primeiro-ministro John Howard, do Partido Liberal, exultou os seus compatriotas a rezarem, “porque se não começar a chover, serei obrigado a proibir a distribuição de água para irrigação na bacia do rio Murray-Darling, que produz 40% dos produtos agrícolas do país”. Os australianos ficaram chocados, mas a reza, não foi suficiente, e a incapacidade de Howard, responder com orações, em lugar de políticas, fê-lo perder as eleições para o Partido Trabalhista de Kevin Rudd, que logo que tomou posse, entregou pessoalmente às Nações Unidas, um conjunto de ratificações do Protocolo de Quioto. Agora, o governo de Rudd, anunciou um fundo de cinco milhões de euros para apoio às vítimas.

Em terras como a Austrália, o berço de origem dos eucaliptos, o fogo florestal faz parte do ciclo vital da natureza. O eucalipto, apontado como uma das causas deste Inferno, despe a sua casca, que ainda incandescente, viaja, transportado pelos fortíssimos ventos, para quilómetros de distância, semeando novos fogos.


Dean Sewell, Árvore a arder, Janeiro de 2003, Austrália

Mesmo depois de arderem, como as cobras que mudam de pele, os eucaliptos renascem com facilidade - o mato ardido fertiliza a germinação das sementes. Se os nativos sabiam aproveitar os fogos espontâneos para seu proveito, os novos donos, impuseram outros hábitos de colonização, e como refere um investigador do Instituto Superior de Agronomia, “o que mudou foi o homem ter metido dentro da floresta as casas e provocado mais ignições”.
Em “Árvore a arder”, tirada pelo mesmo Dean Sewell, mostra a combustão de uma árvore, parcialmente morta, (que suga o ar, causando um vácuo) espirrando faúlhas e brasas incandescentes. Ao longe, exactamente como agora, um engarrafamento de trânsito com os condutores a procurarem escapar aos detritos em brasa que voam por todo o lado.

Na terra do fogo, rodeada por água, os nativos adaptaram-se ao seu ciclo vital. Os novos donos, mesmo elegendo novos governos, por alguma razão, não conseguem adaptar-se à terra dos fogos – os milhões de euros surgem após as catástrofes, a prevenção e combate,


Nick Moir, Helicóptero à descarga, Um helicóptero-jumbo despeja água nos subúrbios a norte de Sydney, ameaçados pelos fogos florestais, 5 Dezembro, 2002

que não foram suficientes, como revela o elevado número de mortes, são teimosamente esquecidos. Na Austrália, que parece povoada por espíritos, a Natureza domina o homem que insiste em não ver os seus sinais.

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