terça-feira, dezembro 09, 2008

Do Outro Lado do Espelho


Doug Aitken, New Opposition II, 2001

"- Vamos! Vamos! – gritava a Rainha. – Mais depressa! Mais depressa! – E corriam tão depressa que, por fim, pareciam que iam a voar, mal tocando no chão com os pés; até que, de repente, quando Alice estava já a ficar completamente exausta, pararam, e ela deu consigo sentada no chão, sem fôlego e toda atordoada. A Rainha encostou-a a uma árvore e disse-lhe, toda afável:
- Agora podes descansar um pouco.



Alice olhou em volta, muito surpreendida.
- O quê! Mas, afinal, temos estado todo o tempo debaixo desta árvore! Está tudo tal qual como estava dantes!
- Claro que está! – disse a Rainha: - Como é que querias tu que estivesse?
- Bem, no meu país – disse Alice, ainda um pouco ofegante -, a pessoa costuma chegar a qualquer lugar, se correr muito depressa e durante muito tempo, como nós fizemos.
- Que país é esse tão vagaroso! – disse a Rainha. – Aqui, vê lá tu, é preciso correr o mais que se pode, para ficar sempre no mesmo lugar. Se quiseres ir para outro lugar qualquer, tens de correr pelo menos duas vezes mais depressa!”.


Nos últimos anos vivemos como no conto - “Alice do outro lado do espelho” de Lewis Carroll, onde tudo é igual, só com a diferença de que as coisas estão viradas ao contrário. Na Casa do Espelho, que é ou foi o nosso Mundo, a economia virtual (baseada nos produtos derivados) correu 150 vezes mais depressa que a economia real (produção de bens e serviços). Agora, sentados no chão, sem fôlego e atordoados, à semelhança de Alice, olhamos em volta surpreendidos e percebemos que apenas recuámos.

Doug Aitken fotografou Los Angeles e o seu simétrico reflectido num espelho.


Doug Aitken, Night train, 2004

À cidade real, sem centro, que cresce indefinidamente em todas as direcções, o artista, graças ao truque da simetria, que replica no espelho a cidade ao contrário, cria um centro onde parece aterrar uma nave extraterrestre. Na imagem a cidade real ausenta-se para dar lugar à cidade virtual que parece preparar-se para encontros imediatos de vários graus.

Na sua viagem ao Outro-Lado-do-Espelho, Alice viu coisas estranhas, Lewis Carroll sabia o que antecipava…


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