quinta-feira, dezembro 04, 2008

"American Power"

Desde o dia 1 que decorre em Poznan, na Polónia, a cimeira das Nações Unidas. O objectivo principal - encontrar soluções para a sucessão do Protocolo de Quioto que termina em 2012. A necessidade de em Janeiro de 2013, um novo tratado internacional contra o aquecimento global estar operacional, faz reunir, durante vários dias na Polónia, perto de oito mil pessoas.
Mas o impasse parece dominar. Encontrar uma posição comum dentro da União Europeia tem-se revelado difícil e a delegação norte-americana, representada ainda pelas posições da Administração Bush, pouco avança, pois espera que a nova equipa de Barack Obama entre em funções.
Perante uma crise mundial a América espera pelo dia 20 de Janeiro.


Mitch Epstein, Flag, da série Family Business, 2000

À espera de ser desfraldada, ainda resguardada do plástico da lavandaria, a bandeira dos Estados Unidos espera, como espera o país.


Quero colocar os Estados Unidos na liderança das negociações e prometo reduzir as emissões de CO2 do país aos níveis de 1990 até 2020 e reduzir em 80 por cento até 2050” propôs Obama na cimeira de 18 de Novembro em Los Angeles.


Mitch Epstein, Snyder, Texas, da série American Power, 2005.( E esta loja da bomba de gasolina transformou-se em antiquário: "uma relíquia contendo outras relíquias", diz Epstein.)

Todas as evoluções são incontestavelmente mais simples de ler quando os números são apresentados em valores percentuais. Dizer que se irá reduzir 80% de emissões de CO2 em 2050, não só é compreensível para qualquer um, como o número é visto muito positivamente.

Mas um número dado em valores percentuais pode revelar-se enganoso. Tendo em conta o numerador, denominador e o período de referência, o resultado obtido será tanto maior quanto mais fraco for o ponto de partida ou o inverso. Comparemos, por exemplo, o crescimento económico dos Estados Unidos (3%) e da China (10%) no ano de 2007. A diferença parece-nos abissal, quase julgamos que os Estados Unidos estagnaram. Porém, se tivermos em conta a riqueza inicial em que estas percentagens são calculadas, teremos então que para um PIB de 3% nos Estados-Unidos isso corresponde a um aumento de 1.200 dólares por habitante, enquanto que para um PIB de 10% na China isso corresponde a um crescimento de 150 dólares por habitante. Se apresentarmos os valores, não em termos percentuais, como estamos habituados, mas como acabamos de ver, não nos parece tudo tão diferente?

Que valor em dióxido de carbono corresponde esses 20%, que os Estados Unidos ainda irão lançar para o ar em 2050?


Mitch Epstein, Gavin Coal Power Plant, Cheshire, Ohio, da série American Power, 2003

Será um valor aceitável para o nosso já debilitado planeta? Quantos planetas Terra serão necessários, se em 2050, muitos dos países, agora emergentes, tiverem o mesmo nível de vida que os americanos e europeus? Será possível, hoje, convencer os países em vias de desenvolvimento a contribuírem com a sua parte?


Mitch Epstein, Trans-Alaska Pipeline, da série American Power, 2007

Infelizmente nestas cimeiras, estão reunidos todos os ingredientes para se assistir a um diálogo de surdos.

Se queremos saber como somos basta olhar à nossa volta”, diz Mitch Epstein, que não se deixando enganar pelos números, está mais interessado em interpretar o que vê a sua volta.


Mitch Epstein, BP Carson Refinery, California, da série American Power, 2007

You can’t just go around taking pictures of the infrastructures anymore, you know?”, diz-lhe um agente do FBI que o surpreende e interroga quando tirava esta fotografia:


Mitch Epstein, Amos Coal Power Plant, Raymond West Virginia, da série American Power, 2004

Para Epstein, quando a arte se transforma em política, deixa de ser arte, e em “American Power”, o projecto no qual trabalha há mais de 5 anos, são evidentes as consequências das decisões económicas e políticas no seu país, e as suas imagens, uma reflexão, muito para além de uma mera propaganda política.


Mitch Epstein, Green Mountain Wind Farm, Fluvava,Texas, da série American Power, 2005

Como foi possível, governo, corporações e todos nós, alterarmos a paisagem e chegarmos a este ponto?” interroga Epstein. Como é possível, interrogamos nós, viver lado a lado com estas chaminés de centrais térmicas?


Mitch Epstein, Poca High School and Amos Plant, West Virginia, da série American Power, 2004

O abandono talvez a única alternativa.


Mitch Epstein, Cheshire, Ohio, da série American Power, 2004

Não deveria a crise actual nos incitar a repensar os actuais modelos de previsão?

Se a nossa visão do passado é defeituosa a nossa visão do futuro é então alarmante.

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