quarta-feira, outubro 08, 2008

No centro do tufão


Quando em Março deste ano, o banco de Investimento J.P.Morgan comprou o rival Bear Stearns por uma quantia simbólica, escrevi aqui o seguinte : “Hoje vivemos num mundo de exuberância especulativa e continuamos a não querer aprender com os erros do passado. Quem não se lembra, na era Reagan, da explosão de construção que levou depois à falência das caixas económicas e de centenas de bancos de pequena e média dimensão? Os gigantes, como o Citibank e Chase Manhattan também não ficaram imunes e estiveram também em perigo. E a causa, não é a mesma da crise financeira actual, excesso de crédito especulativo concedido?

Hoje, ao ler este artigo:
Oct. 8 (Bloomberg) -- The $700 billion bailout of Wall Street's subprime-tainted securities harkens back to the real- estate bets that sparked the savings and loan crisis in the 1980s. The geography's the same, too.
Then, as now, the government created a taxpayer-funded enterprise to absorb the fallout from bad real-estate investments. A Bloomberg map of the hardest-hit areas shows that, with the exception of Nevada, regions with the highest foreclosure rates also had the most savings-and-loan failures, according to the Federal Deposit Insurance Corp.

ainda fico mais espantada ao verificar que as regiões mais afectadas nos anos 80 pelo colapso das caixas económicas (as instituições americanas de captação de poupanças) - , que financiaram arranha-céus, centros comerciais e milhares de outros projectos que mal conheciam, são agora as mesmas que mais sofrem com o crédito de alto risco – o chamado subprime. É querer ignorar o passado recente…

Este mapa elucida-nos quais as regiões mais afectadas pela crise do subprime:



A pequena cidade Merced na Califórnia, entre São Francisco e Los Angeles é a região do país mais penalizada pela crise, o verdadeiro centro do tufão.

Desde 2000 que Merced viu crescer à sua volta dezenas de subúrbios. Mais de 4.500 novas casas foram construídas à volta de uma cidade com apenas 80.000 habitantes. Porém, nem políticos, construtores, investidores, habitantes questionaram o excesso de construção. Casas de luxo com piscina e três lugares de garagem eram vendidas por 500.000 mil dólares, que agora com a execução das hipotecas valem metade do preço.


Jim Wilson, Merced, Califórnia, 2008

Durante anos viveu-se na ilusão que era fácil enriquecer - em cinco anos as valorizações chegaram a 142%, e poucos foram os que conseguiram resistir a tamanha especulação. Muitos venderam as suas casas e compraram casas melhores, agora sem nenhuma dizem “I was stupid”.

Em Riverstone, estas casas de madeira, já descoloradas pelo sol intenso, estão assim há mais de um ano.


Jim Wilson, Riverstone, Merced,Califórnia, 2008


Jim Wilson, Riverstone, Merced, Califórnia, 2008

Com a crise os construtores desapareceram e nem as acabaram.

Moraga, outro subúrbio, desenhado como um complexo de 500 casas de luxo rodeado por vários campos de jogos, acabou também incompleto,


Jim Wilson, Moraga, Merced, Califórnia, 2008

das 500 casas só 24 se construíram, ainda desabitadas porque ninguém as compra.


Jim Wilson, Moraga, Merced, Califórnia, 2008

Agora o futuro desta região é tão incerto como estas estradas que não levam a lugar nenhum.


Jim Wilson, Merced,Califórnia, 2008


Jim Wilson, Merced,Califórnia, 2008

Em 2000, Robert Polidori fotografou o North Dakota.


Robert Polidori, Street Scene, Downtown Manfred, North Dakota, 2000


Robert Polidori, Main Street, Nekorna, North Dakota, 2000


Robert Polidori, Abandoned Farmhouse, Schaty Farm, Slope County, North Dakota, 2000

Olhar para as fotografias de Polidori ficamos com a sensação de recuar no tempo e presenciar as profundezas da Grande Depressão, parece que o New Deal do Presidente Roosevelt não chegou à região.

No mapa que mostrámos, North Dakota, (ND), pintado a cor-de-rosa mais claro é dos estados menos afectado pela crise actual. Será que o passado longínquo, tão presente na região e na memória dos que a habitam os livrou agora desta recessão?

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