sexta-feira, julho 04, 2008

Fourth of July

Hoje os americanos gozam o seu dia de independência nacional. Há 232 anos, a 4 de Julho de 1776, representantes dos 13 estados americanos assinavam no congresso a declaração de independência em relação à coroa inglesa. Na bandeira, símbolo da nova soberania e independência nacional, o número de riscas e estrelas representava o número dos primeiros 13 estados americanos. Hoje, o número de estados contam-se nas estrelas, porque nas riscas perduram os 13 estados iniciais. Washington interpretou o simbolismo da bandeira nos seguintes termos: “We take the stars from heaven, the red from our mother country, separating it by white stripes, thus showing that we have separated from her, and the white stripes shall go down to posterity representing liberty”.
Por coincidência, ou por obra do acaso, na pátria mãe, “our mother country”, Adam Smith, nesse mesmo ano, 1776, publicava a sua obra prima - “A Riqueza das Nações”. O que faz crescer uma economia?, a grande questão macroeconómica que Smith procurou responder. E no seu livro, identifica, com toda a clareza a acumulação de capital, o comércio livre e um papel adequado, mas circunscrito, do Governo e da autoridade como fulcrais à prosperidade nacional, mas e o mais importante, realçou a iniciativa pessoal: “O esforço natural de todo o indivíduo com vista a melhorar a sua própria condição, sendo-lhe permitido esforçar-se dentro da liberdade e segurança, é um princípio tão forte, que é, por si só e sem qualquer auxílio…capaz de levar a sociedade à riqueza e à prosperidade”. A concorrência, o factor-chave, a virtude que motivava cada pessoa a tornar-se mais produtiva, e quanto maior a produtividade, maior a prosperidade.
E a nova nação que nascia, cheia de homens aventureiros, bebeu e aplicou os ideias de Smith, e a América tornou-se na maior potência económica mundial. Hoje, a América, ainda a maior potência económica mundial, vive uma enorme crise. Será porque nos últimos anos ficou exposta aos rigores e às tensões da concorrência internacional? Será que a mão invisível de Adam Smith não funciona a uma escala global? Ou será que o mundo entrou temporáriamente num desiquilíbrio?

Para os americanos, celebrar o 4 de Julho sem bandeira, símbolo de liberdade e patriotismo, é impensável, e Robert Frank, enquanto viajava pelo país com uma bolsa da fundação Guggenheim, nos idos anos 50, foi por duas vezes, a Jay, no Estado de Nova Iorque, assistir às celebrações do dia da independência. Escolheu esta fotografia,

Robert Frank, Fourth of July - Jay, New York
uma bandeira transparente e remendada para iniciar um dos capítulos - “how americans live, have fun, eat, drive cars, work”, (como escreveu aos seus pais), do seu hoje célebre livro “The Americans”. Frank, um Suíço há poucos anos no país, entendeu o simbolismo da bandeira, e estruturou o seu livro em quatro capítulos, em que uma fotografia da bandeira, a única marca, que separa e nos indica que entramos num novo tema.

Robert Frank, Parade - Hoboken, New Jersey

Robert Frank, Navy Recruiting Station, Post Office - Butte, Montana

Robert Frank, Bar- Detroit

A visão de Frank da América não é optimista. A crítica não gostou do livro, chamou-o perverso, anti-americano. “The Americans”, revela um profundo mal estar de uma nação que se tornou conformista, consumista, racista e violenta. Os políticos não são poupados, distantes, maníacos, corruptos,

Robert Frank, Political rally - Chicago
contrastam com um povo que ainda se delicia com os feitos aventureiros dos cowboys.

Robert Frank, Rodeo - Detroit

A cultura americana das paradas, picnics, barbecues, associado aos festejos deste dia, 4 de Julho, não faltam no livro de Frank.

Robert Frank, City fathers - Hoboken, New Jersey

Robert Frank, Picnic ground- Glendale, California

Robert Frank, Public park - Ann Arbor, Michigan

Frank, depois de “The Americans” enveredou pelo cinema, voltar à estrada, com a sua Leica era repetir-se.

Passou meio século desde que o livro foi editado pela primeira vez. Será que Frank pode regressar à estrada sem receio de se repetir? Será, que passados 50 anos, não houve mudanças culturais na América que sejam perceptíveis? Ou será que Frank não viu na cultura americana as iniciativas de risco e de gosto pela aventura dos primeiros anos de existência do país?

Sem comentários: