terça-feira, julho 29, 2008

Bancos, banqueiros e a crise financeira

Pouco antes do seu périplo pela América, Robert Frank, numa entrevista à U.S. Camera, 1954, sintetiza numa frase o que para ele significa a fotografia: “In a sense, all pictures exist because of their atmosphere”.

No início dos anos 50, em Londres, cidade financeira por excelência, Frank fotografou os banqueiros. Pensativos, preocupados e ansiosos, parecem sucumbir ao cinzento do intenso nevoeiro.

Robert Frank, London, 1951-53



Nos anos 50, se a experiência ainda recente da Segunda Guerra enraizara, não só nos banqueiros,

Robert Frank, London, 1951-53

mas na população em geral um pessimismo céptico, o futuro, com a expectativa de uma terceira guerra que parecia vir já a caminho, também não era risonho. A vida quotidiana nesses anos, era ainda aquecida a carvão, que satisfazia 90% das necessidades de combustíveis da Grã-Bretanha.


















Robert Frank, London, 1951-53

Na capital, a queima dessa matéria-prima, envolvia a cidade num nevoeiro húmido, que à época mais parecia uma qualquer cidade industrial dos tempos vitorianos.

Robert Frank, London, 1951-53


Robert Frank, London, 1951-53

Nas ruas da City, com os seus chapéus altos, sobretudo comprido e os indispensáveis chapéus de chuva, os banqueiros parecem autómatos que percorrem as ruas como que alienados do resto dos transeuntes.


















Robert Frank, London, 1951-53

Nos seus trajes elegantes, de passo apressado, “time is money”, Frank transmite e revela, a posição social desta classe que parecia viver fechada do resto da sociedade.

Robert Frank, London, 1951-53

Robert Frank, London, 1951-53

No mundo financeiro, ainda longe da globalização, as poupanças eram investidas no próprio país,

Robert Frank, London, 1951-53

e os banqueiros mesmo bem informados, não poderiam prever a extensão das mudanças que estavam prestes a acontecer-lhes - os erros e euforias de um mercado financeiro global.

Nos finais dos anos setenta, o aumento de liquidez num mundo que prosperava e o desenvolvimento de tecnologias, que dotaram o mercado de poder fazer negócio 24 horas por dia, vieram revolucionar os mercados financeiros. As poupanças, agora investidas em todo o mundo, ligaram os mercados entre si, descobrir uma fraude ou um desfalque é agora um exercício difícil.
Há dez anos, 1998, o alerta foi dado com o colapso do Long Term Capital Management (LTCM), um fundo gerido por dois Prémio Nobel. Herdando a superioridade, que sempre caracterizou os banqueiros, os fundadores do LTCM, recusaram-se a oferecer garantias aos credores, erro fatal para as instituições de crédito que lá puseram milhares de milhões dos seus depositantes. Se gerir milhões, depressa transforma muitos dos gestores em jogadores, muitos são também os investidores, que na ânsia de ganhar muito em pouco tempo, entram no jogo dos jogadores.

Num mundo que se globalizou a memória é curta, e a crise financeira mundial, que dura há mais de uma ano, ainda está para durar. A tradição já não é o que era e os directores dos bancos, que os encheram de garantias de bens imóveis que deixaram de ter valor, ou que nunca mesmo tiveram algum valor, são agora demitidos num abrir e fechar de olhos.
As falências sucedem-se e sexta-feira passada, 28 agências do 1st National Bank of Nevada e o First Heritage Bank, do Nevada, Arizona e Califórnia “were closed late Friday by federal regulators”, lemos nas noticias.
Agora é esperar que os preços dos imóveis estabilizem para que o sistema bancário regresse à normalidade, e enquanto isso não acontece, as secretárias dos bancos, vão continuar vazias.

Robert Frank, Bank - Houston, Texas, do livro "The Americans", 1958


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