sexta-feira, março 07, 2008

Ruiu o Muro de Berlim?

Depois de Praga seguimos para a Rússia e porque não hoje aterrarmos em Berlim?, (lá mais para a frente explicarei a verdadeira razão deste post). Berlim cidade arrasada e queimada pelas bombas, Berlim cidade dividida pelo muro da vergonha, Berlim hoje a capital da Alemanha, foi invadida nos últimos anos pelo slogan “Berlin wird”, e Berlim, a cidade martirizada, transformou-se num estaleiro onde guindastes, fundações, andaimes, escavadoras,

Frank Thiel, Stadt 4/03 (Berlin), 1996
Frank Thiel, Stadt 10/06/A (Berlin), 2001

destruíram e construíram uma nova cidade, e estas imagens de Frank Thiel, são bem as imagens que vi de Berlim, no ano da passagem do milénio, onde quarteirões inteiros eram destruídos, “edifícios de péssima construção, mais vale deitar tudo abaixo e construir de novo” dizia-me um amigo berlinense que me mostrava a cidade que se transformava de dia para dia.

Frank Thiel, Stadt 5/20/C (Berlin), 2000
Frank Thiel, Stadt 5/24/A (Berlin), 2001

Reichstag, o edifício construído em 1894, a primeira casa que albergou o parlamento do império alemão, foi dos poucos a resistir à destruição. Destruir o Reichstag era destruir a história recente da Alemanha, e hoje, com a sua nova cúpula, símbolo de um futuro que se quer de esperança, de uma política de abertura, o Reichstag narra-nos a história recente da Alemanha.
Gabriele Basilico, Reichstag, do livro Berlin, 2002
Gabriele Basilico, Reichstag, do livro Berlin, 2002
Não foi o terrível incêndio que o edifício sofreu na noite de 27 de Fevereiro de 1933, que levou Hitler a arranjar razões e a comprometer a democracia?
Anónimo, Incêndio no Reichstag, Berlim 27 Fevereiro, 1933
Não foi o telhado do Reichstag, o escolhido pelos Russos para desfraldar a sua bandeira, no dia 2 de Maio de 1945?
Yevgeny Khaldei, Soviet Flag on the Portico of the Reichstag, Berlim, 2 de Maio, 1945
Não foi o Reichstag o edifício escolhido para a cerimónia oficial da reunificação no dia 3 de Outubro de 1990? e não foi o Reichstag o edifício que se teria de reconstruir, como um novo espaço político, quando se decidiu transferir a capital da Alemanha, Bona para Berlim, escolhendo, para dignificar tão emblemático símbolo, um arquitecto de renome, Sir Norman Foster?
Frank Thiel, Reichstag, Stadt 5/03 (Berlin), 1996
Frank Thiel, Reichstag, Stadt 2/35 (Berlin), 1998
Frank Thiel, que estudou matemática e se tornou fotógrafo por acaso, nasceu e viveu em Berlim Oriental, Gabriele Basílico, o fotógrafo e arquitecto estrangeiro, precisou de mapas e guias turísticos para se deslocar na cidade. Com Basilico andamos de carro em Berlim, numa cidade que parece vazia, que horas serão?
Gabriele Basilico, Strausberger Platz, do livro Berlin, 2002

Aceleramos quando o sinal passa a verde e seguimos em frente pelas novas avenidas abertas, quando de repente,
Gabriele Basilico, Grunerstrasse, do livro Berlin, 2002
Gabriele Basilico, Alexanderplatz, do livor Berlin, 2002
Gabriele Basilico, Grunerstrasse, do livro Berlin, 2002
Gabriele Basilico, Alexanderplatz, do livro Berlin, 2002
sem o esperarmos, regressamos ao ponto inicial, afinal não seguimos em frente como julgámos, contornámos foi a praça e agora vemos os edifícios de outros ângulos.
Gabriele Basilico, Alexanderplatz, do livro Berlin, 2002
Ao folhear o livro “Berlim”, 2002, de Basilico
paramos constantemente para pensar nos pontos cardeais, uma necessidade natural de nos situarmos. Mas na nova Potsdamer Platz, ainda em construção, deixamos o nível do peão
Gabriele Basilico, Potsdamer Platz, do livro Berlin, 2002
para num nível mais alto, e olhamos para a praça numa vista de pássaro,
Gabriele Basilico, Potsdamer Platz, do livro Berlin, 2002
mas ao virar a página aterramos nesta estrutura da Bahnhof Potsdamer Platz.
Gabriele Basilico, Potsdamer Platz, do livro Berlin, 2002
Thiel preferiu o elevador que o governo aí instalou para fotografar a Potsdamer Platz, e nestas quatro fotografias, obtemos esta vista de uma cidade que se transforma.
Frank Thiel, Stadt 7/12 (Berlin), 1999

Mas Thiel gosta de tomar a parte pelo todo, é o seu modo analítico também de entender as transformações da cidade, e na Karl-Marx-Allee, fotografa, aproximando-se da parede de azulejos, o cinema Kosmos (1960-62),
Frank Thiel, cinema Kosmos #4, 2002
desenhado por Josef Keiser e Günter Kunert. Thiel anula o espaço real e descobre o poder do desenho abstracto. Basilico, ao contrário, não mata a perspectiva, pelo contrário fotografa o Kosmos de diferentes ângulos.
Gabriele Basilico, Karl-Marx-Allee, do livro Berlin, 2002
Gabriele Basilico, Karl-Marx-Allee, do livro Berlin, 2002
Gabriele Basilico, Karl-Marz-Allee, do livro Berlin, 2002
Em 1998, Berlim quer comemorar o feito da reunificação. Thiel concorre com a sua série “The Allies”,
Frank Thiel, Soldier RUS, 1994
Frank Thiel, Soldier USA, 1994
os retratos de soldados que iniciou em 94, e ganha o concurso. Em Checkpoint Charlie, no meio da Friedrich-strasse, que durante vinte e nove anos, antes da remoção do muro, foi a entrada principal para o outro lado da cortina de ferro, Thiel dispõe em caixas de luz bem visíveis para os peões e condutores um guarda russo
Frank Thiel, Checkpoint Charlie, (Russian Soldier), 1998
Gabriele Basilico, Checkpoint Charlie, do livro Berlin, 2002
e um guarda americano.
Frank Thiel, Checkpoint Charlie, (American Soldier), 1998
Gabriele Basilico, Checkpoint Charlie, do livro Berlin, 2002
Quem descia a Friedrich-strasse no sentido norte-sul via o guarda americano, no sentido contrário via-se o guarda russo, onde outrora no mesmo local uma placa assinalava “Está a deixar o sector Americano/Britânico/Francês”.
Muitos são hoje os turistas que não resistem em Berlim, na Potsdamer Platz, a tirar fotografias semelhantes a esta do realizador e fotógrafo Raymond Depardon.
Raymond Depardon, Berlin, 2004
Mas será que o muro ruiu? Ficou feito em fragmentos, como mostra esta imagem? Será que os sistemas de vigilância da antiga Berlim Oriental, que Thiel fotografou estão ao abandono?
Frank Thiel, NSA Field Station, Berlin, Teufelsberg "17, 2005
Frank Thiel, NSA Field Station, Berlin, Teufelsberg, #8, 2005
Frank Thiel, NSA Field Station, Berlin, Teufelsberg #07, 2005
Frank Thiel, NSA Field Station, Berlin, Teufelsberg, 2005
Frank Thiel, NSA Field Station, Berlin, teufelsberg #05, 2005
Frank Thiel, NSA Field Station, Berlin, Teufelsberg, 2005
Chegou a altura de explicar ao leitor o porquê deste post. Em Liége, decorre até ao final do mês, a 6ª Bienal de fotografia. O país convidado, de honra, para celebrar esta 6ª Bienal - Portugal. Rui Prata, do Museu da Imagem de Braga e responsável pelos célebres Encontros de Braga, o escolhido para comissário. Territoires _ o tema central, questiona problemas da actualidade, nomeadamente o “Território Político” o que nos interessa aqui ver.
É então no contexto “Território Político” que a série “East of a New Eden”, 2001-02, de Yann Mingard e Abban Kakulya, é apresentado.

Durante um ano, Mingard e Kakulya, um começando no Norte o outro pelo Sul, percorreram as fronteiras dos países que se estendem entre o mar Báltico e o mar Negro.
Zona habitada por mais de 60 milhões de pessoas, este corredor de 600 Km de largura engloba hoje a Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria e a Roménia, alguns, antigas Repúblicas Soviéticas, os outros dominados pela cortina de ferro. Se outrora serviram de barreira à URSS, hoje são a barreira que separa a União Europeia do Oriente ou da Europa Oriental como gostam mais de chamar.
Mingard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mingard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Quando em 2001-02, Mingard e Kakulya realizaram este trabalho, todos estes países eram candidatos à União Europeia. Desde 2004, muitos entraram, outros como a Roménia ainda aguardam. Em 2001-02, a mensagem da União Europeia era clara : todos devem reforçar o controle das fronteiras exteriores, uma das condições chave para entrar. Reabilitaram-se antigos postos de vigilância Russos
Mingard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mingard e Kakulya, da série "East of s new Eden", 2001-02
Mingard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mingard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
e em algumas fronteiras foram implementados sofisticados sistemas de vigilância,
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden" 2001-02
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mengard e Kakulya, da série "east of a new Eden", 2001-02
o objectivo controlar quem entra, o drama actual da imigração clandestina, de gente que procura na Europa um melhor nível de vida. Quem é apanhado, aguarda em centros de refugiados se é ou não aceite.
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mas por vezes o estatuto de estrangeiro é difícil de definir, um Lituano que viveu na ex-URSS e agora pretende regressar ao seu país, embora fale lituano, é-lhe difícil provar a sua origem, há muito que não existem papeis, e este é o drama de muitos dos refugiados.
A Roménia que aguarda a sua entrada na União tem o sistema de controlo de fronteiras mais frágil, por falta de orçamento, mas o clima ajuda,
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
Mengard e Kakulya, da série "East of a new Eden", 2001-02
e em Dezembro as enormes extensões de neve servem informações preciosas, as pegadas na neve, indício de quantos e para onde se dirigem.

Hoje o muro de Berlim não ruiu, antes se deslocou para outras paragens, e os controladores mudaram de posição.
Mengard e Kakulya, da série "east of a new Eden", 2001-02

Sem comentários: