segunda-feira, janeiro 07, 2008

O preço do "ouro negro"

Na semana passada, mais precisamente na quarta-feira, dia 2, o petróleo atingiu o valor mais elevado de sempre no mercado nova iorquino ao ultrapassar a barreira dos $ 100 dólares por barril.

Crude Oil, (Nymex), preço dos contratos de futuros, Fevereiro 2008

A OPEC, que produz 40% dos 86 milhões de barris que se consomem todos os dias no mundo, já veio dizer que não está nos seus planos aumentar a produção na próxima reunião que terá lugar no dia 1 de Fevereiro, pois, para eles, a subida do preço do “ouro negro”, não se deve à procura real mas antes à especulação e à tensão geopolítica provocada pela violência que se viveu nas ruas de Port Harcourt, a capital do petróleo da Nigéria, o maior produtor de África e o oitavo a nível mundial.
Mas talvez seja mais real o que diz um dos seus membros “ there’s nothing OPEC should do, nor do we have much capacity to do anything. What’s driving oil is out of our hands”, pois mesmo que quissesem, hoje as refinarias já produzem nos seus máximos, como tão bem revela esta fotografia que Thomas Weinberger tirou à refinaria da Esso.
Thomas Weinberger, "Cracker", Refinaria Esso, 2003
Ao fotografar a mesma cena de dia e de noite, que depois combina, Weinberger dá a verdadeira imagem, de uma indústria que parece não dormir.

Em Portugal, o interesse em seguir o preço do “ouro negro” varia conforme os políticos que estão no poder. Guterres ao fixar o preço da gasolina, indiferente à variação do preço do petróleo nos mercados internacionais, deixou-nos também indiferentes à sua flutuação, o preço a pagar nas bombas de gasolina era sempre o mesmo,
Nuno Cera, do livro "Cimêncio", 2002
mas a factura veio depois. Bagão Félix, enquanto ministro das Finanças, veio alertar para a dependência, no nosso Orçamento de Estado, do preço do petróleo. Nesse ano, o preço do barril de Brent (que serve de referência para Portugal), discutia-se na praça pública e de súbito, toda a gente sabia e opinava sobre o preço do “ouro negro”. A factura também veio depois, Bagão subestimara a subida do “ouro negro”. Agora com Sócrates e com o dólar de rastos, “crude is priced in dollars”, o preço do “ouro negro” foi remetido novamente para os especialistas, pois outras novelas entretêm-nos agora.

O petróleo foi encontrado na China no século III, quando se escavava o solo em busca de sal gema. Os materiais petrolíferos, como o betume, eram conhecidos na antiguidade e usados como agente ligante. No norte da Pérsia (actual Azerbeijão), em Baku, Marco Polo (1254-1324), escreveu, nas suas Viagens, sobre a exploração de petróleo.
Há dois meses, seguimos aqui a corrida ao ouro, e lembrámos o ano, em que James Marshall, 1848, anunciava a sua descoberta ao longo do “American River” na Sierra Nevada, Califórnia.
Dez anos mais tarde, em 28 de Agosto de 1859, em Titusville, na Pennsylvania, Edwin Drake, atingia um lençol petrolífero a pouco mais de vinte metros de profundidade. Iniciava-se uma outra corrida, a um outro ouro, que pela sua cor não hesitaram em chamar-lhe negro, e assim nascia a moderna indústria de petróleo.
John A. Mather, Quinta de John Benninghoff. Torres petrolíferas em 1864 & 65. Vista de pilones de madeira e cabanas, c. 1865

No ano que agora acabou, a Fundação Calouste Gulbenkian, nas comemorações dos seus 50 anos, presenteou o público com uma extraordinária exposição- INGenuidades. Jorge Calado, o comissário, não se esqueceu de homenagear o fundador Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), ao representar na exposição o circuito do petróleo: extracção, refinação, transporte e distribuição, pois na base da enorme fortuna do fundador, estava o petróleo. Gulbenkian, diplomado em 1887 pelo Departamento de Engenharia e Ciências Aplicadas no King’s College de Londres, aos 22 anos faz uma viagem pela Transcaucásia, onde observou os campos petrolíferos de Baku.
Richard Pare, O velho Campo Petrolífero, Baku, Azerbeijão, 1999
Pouco tempo depois, era encarregado pelo governo otomano em elaborar um relatório sobre os campos petrolíferos do Império. Gulbenkian, foi no seu tempo, como relatam os historiadores “um pioneiro do desenvolvimento petrolífero no Médio Oriente, um negociador esclarecido e um perito financeiro de excepcional categoria”.
Durante décadas, com o preço do petróleo barato, a distância entre os estados americanos reduziram-se com a construção de muitas estradas,
Danny Lyon, Wisconsin, 1962
onde grandes carros
Garry Winogrand, Los Angeles, 1964
Harry Callahan, Detroit, 1943
com as suas barbatanas vistosas circulavam.
Elliott Erwitt, Yale's Oldest Living Graduate, 1956
Mas em 1973, o preço do “ouro negro” duplicava, a antiga OAPEC (Organization of Arab Petroleum Exporting Countries), embargava a sua exportação, como retaliação da ajuda americana a Israel. Em 1979 seria a vez da revolução no Irão elevar o preço do petróleo, e na década de 70, as bichas nas bombas de gasolina ficaram na memória,
Anónimo, Arquivo da Time, década de 1970
era o começo das pressões geopolíticas no preço do “ouro negro”.
Nos anos seguintes, 80 e 90, o preço baixou, e ninguém mais se importou com as energias alternativas, e com o preço baixo, muitos dos investimentos na prospecção e na refinação do “ouro negro” tiveram que encerrar.
Wolfgang Sievers, Perfuração petrolífera na plataforma semi-submersível "Nymphea", Estreito de Bass, 1983
Mas o mundo do “ouro negro” é sinuoso, como é o seu transporte,
Esther Bubley, Tubagem de Refinaria, Standard Oil, Tombail, Texas, 1945
e só agora o mundo parece acordar assustado com a poluição do “ouro negro” e procura outras formas, agora “verdes” de alimentar os nossos carros,
Jeff Brouws, Mobil/Atrelado, Inyoken, Califórnia, 1991
aviões
Peter Fischli/David Weiss, Airport Berlin, Tegel, 1990
e todas as outras necessidades do nosso dia a dia.
Roger Scott, Ópera de Sydney. Camião-cisterna a encher depósito de gasóleo através de buraco no chão, e rabo de um operário, 1986

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