domingo, novembro 25, 2007

"Reveillon" na montanha

Ontem, a secção Fugas do jornal Público, apresentava várias propostas de programas para o fim de ano. A Serra da Estrela, uma das alternativas, o programa dizia o seguinte: “Estadia durante cinco dias/quatro noites no Hotel Serra da Estrela/Varanda dos Carqueijais em regime de meia pensão, jantar de gala com animação e fogo de artifício no exterior, descida nocturna na estância Vodafone ou no Skiparque e entradas para visitas aos museus de Belmonte por 630 euros em quarto duplo”. Esta fotografia da Serra da Estrela,

Adriano Miranda, Serra da Estrela
tirada por Adriano Miranda, ilustrava o dito texto. Não me parece a fotografia ideal para mostrar tanta animação proposta, pois a fotografia apela antes ao sossego e reflexão numa serra virgem de gente. À semelhança de Adriano Miranda, muitos fotógrafos deixaram-se fascinar pelo silêncio destas paisagens:
Albert Renger-Patzsch,
Albert Renger-Patzsch, Mountain Forest in Winter, 1926
Alfred Stieglitz,
Alfred Stieglitz, First Snow at the Litlle House, 1923
Jitka Hanzlová.
Jitka Hanzlová, da série Forest, 2005

Mas o programa do “reveillon” que o jornal sugere apela à prática do ski, tão em voga nos nossos dias. A prática do desporto alpino começa nos anos em que Auguste Rossalie Bisson, 1861, chega ao pico do Mont Blanc.
Auguste Rosalie Bisson. Ascent of Mont-Blanc, albumina, 1861
Auguste Rosalie Bisson, Ascent of Mont-Blanc, albumina, 1861
Na Europa a paisagem era já intima e caseira, e o sublime já só restava nas montanhas alpinas, difíceis de transpor. Hoje, com os teleféricos subimos fácilmente aos picos mais altos e Walter Niedermayr fotografa a montanha transformada para o turismo de massa.
Walter Niedermayr, Grand Motte I, 2002
Walter Niedermayr, Shiga Kogen II, 2000
Walter Niedermayr, Nigardsbreen, 2002
Walter Niedermayr, Passo Tonale V, 2005
Walter Niedermayr, Schnalstalgletscher, 2003
Nas fotografias de Niedermayr e Bisson, a presença humana, pequenos pontos disseminados no branco da neve, servem-nos de escala para que percepcionemos a imensidão destas paisagens e Niedermayr recorre frequentemente a mais de uma imagem, dípticos e trípticos, revelando a insuficiência de uma imagem para captar os grupos turísticos na imensidão da paisagem.
O programa sugerido pelo jornal sugere animação em grupo, talvez a fotografia de Ibon Aranberi,
Ibon Aranberri, cueva, 2002-2004
que não é na Serra da Estrela fosse mais adequada, afinal não são os programas em grupo que interessam mais que o local?

2 comentários:

Anónimo disse...

A fotografia do Renger-Patzsch é tao parecida com uma de Ansel Adams, feita em Yosemite!!
Abraço.

Madalena Lello disse...

estive para postar a de Adams, acabou por ficar de fora...gosto mais da de Renger-Patzsch...