domingo, agosto 05, 2007

Uma história da América, Arthur Lavine

Arthur Lavine, fotógrafo pouco conhecido entre nós, nasceu no Trenton em New Jersey. Desde Maio que a sua obra está em exposição no Museum of Photographic Art (Mopa) de San Diego, Califórnia, cidade onde agora vive.

Mopa, exposição Arthur Lavine, Junho, 2007

Lavine foi mais um, entre os muitos fotojornalistas que iniciaram a sua carreira em Nova Iorque. Multidões de fotógrafos registavam os acontecimentos que eram postos em destaque pelos fulgores das explosões do magnésio e pelo clarão dos focos.
Arthur Lavine, Photographers, New York city, 1953
Tudo o que fosse notícia era assim registado. Na década de 1950 o trabalho do fotojornalista tornou-se popular e seguir esta profissão era seguir uma carreira fascinante de viagens, aventura, e acima de tudo não era mal remunerada, a fotografia era vista como um excelente meio de comunicação.
Durante quatro décadas Lavine fotografou a América, e ao ver a exposição vemos quarenta anos da história do país.
Em 1950, Lavine instala-se em Nova Iorque e começa como freelancer vendendo as suas fotografias para os principais jornais e revistas da época: Fortune, Life, Collier’s, Newsweek, Redbook, Look, Parade, Popular Photography, The New York Times e U.S. Camera. Participa com “Working Hands” na mais célebre exposição do século, “The Family of Man”, 1955, dirigida por Edward Steichen, na altura director de fotografia do Museum of Modern Art de Nova Iorque (MoMA). A fotografia trouxe-lhe fama, para além das inúmeras reproduções, os correios escolhem “Working Hands” para selo. Lavine ainda hoje se orgulha de “Working Hands”, símbolo perfeito da fraternidade no trabalho, símbolo perfeito do espírito humanista expressa na exposição.
Lavine, Working Hands, Bath, Maine, 1947

Dwight Eisenhower, é eleito para a Casa Branca em 1952.
Arthur Lavine, Election Night Returns, times Square, New York City, 1952
Arthur Lavine, Election Night, Times Square, New York City, 1952
Na Times Square em Nova Iorque espera-se pelos últimos resultados.
Depois da guerra seguem-se anos de prosperidade. A agricultura é mecanizada.
Arthur Lavine, Combine Machines Load, Harvested Grain Onto Truck, Rexford, Kansas, 1951
Arthur Lavine, Farmers Checking Grain for Moisture Content, Rexford, Kansas, 1951
Arthur Lavine, Boy tasting wheat Kernels, Sentinel Butte, North Dakota, 1953
Com o regresso dos soldados regressa a normalidade das vidas interrompidas. Nas cidades crescem os chamados subúrbios, era necessário alojar os “baby boomers”, e a construção tem de ser rápida.
J.R. Eyerman, Life Pictures
E os subúrbios dos Estados Unidos transformam-se em casas standardizadas, todas iguais, variando nalguns detalhes. Dan Graham poucos anos depois, publica na revista Arts Magazine, Dezembro/Janeiro de 66/67, um ensaio em foto/texto “Homes for America”onde lemos “Nos subúrbios de Cape Coral, o comprador pode escolher entre oito modelos de casas A The Sonata, B The Concerto, C The ouverture...e pode também escolher oito cores 1 White, 2 Moonstone Grey, 3 Nickle... "a block of eight houses utilizing four models and four colors might have ...2.304 possible arrangements. ” "These projects date from the end of World War II... are located everywhere... they fail to develop either regional characteristics or separate identity..."
Homes for America, 66/67, Dan Graham
Dan Graham, Tract Houses, Bayonne, N.J, 1966
É a abordagem oposta aos fotojornalistas, que fotografavam o conforto e segurança da classe média americana. Com a prosperidade económica, antes de partirem para o trabalho, a nova geração tem mais tempo para estudar e divertir. Inventa-se o “teenager
Nina Leen, Time Life Pictures
e os discos de 45 rotações correspondem aos iPodes de hoje. A televisão deixa de ser um bem de luxo para se tornar uma necessidade.
Grey Vilet, Time Life Pictures, A Chicago Sales Flor, 1956
Agora é ela que dita os hábitos dos americanos, o que devem comprar, ouvir...
e o seu impacto é tão grande que muda a rotina do dia a dia. A série “You love Lucy”, 1951, é um êxito, foi o show mais visto no país.
"You Love Lucy", 1951

Em 1952, Lavine fotografa a mudança das famílias que viviam na Pennsylvania, mudança forçada por uma companhia mineira. O texto que acompanha esta fotografia
Arthur Lavine, Moving Day, Audenreid Pennsylvania, 1952
diz o seguinte “Audenreid was a company-owned coal town that was about to be leveled by the corporation so that they could start open strip mining. This man and his family had to leave their home. He stood quietly by the TV set on this sad moving day. I did a series of photographs about this family, who were parents of a friend of mine, and some of their neighbors”.
Este homem, pai do amigo, toma conta do seu bem mais precioso, a televisão.
Mas a América da Eisenhower não é só progresso e conforto, a luta contra a segregação racial está prestes a eclodir, em 1955, Rosa Parks recusa-se no autocarro a dar o lugar a um homem branco, seguem-se as revoltas lideradas por Martin Luther King contra a segregação, lutam por iguais direitos.
Lavine fotografa os bairros pobres da Virginia.
Arthur Lavine, Woman and Children on House Stoop, Newport, Virgínia, 1956

“The slums were really bad, and at times, I was uncomfortable photographing them”, dirá Lavine.

Na década seguinte, 1960, na campanha para a presidência da Casa Branca, o democrata de Massachusetts, John F. Kennedy anunciava ao povo americano “ we must get the country moving again”. Começa uma nova década e uma nova era, e já na Casa Branca Kennedy dirá “ we stand at the edge of a New Frontier – The Frontier of unfulfilled hopes and dreams”. Mas nem tudo corre como sonha, bem pelo contrário, em Abril de 1961, é a derrota na Baía dos Porcos contra Fidel Castro, ainda em Agosto desse ano, sob o comando de Nikita Khrushchev, um murro ergue-se dividindo Berlim em Oriental e Ocidental. A “iron curtain” que Winston Churchill prevera é agora em cimento e pedra.
Em Outubro de 62, Kennedy é informado que os soviéticos estão a armar Cuba com mísseis nucleares. Kennedy decreta o bloqueio naval e os Russos retiram-se.
Em Agosto de 1963, no Lincoln Memorial em Washington
é o ponto alto dos protestos para acabar com as diferenças raciais. Perante milhares,
Luther King começa o seu célebre discurso “I have a dream”, e continua “Tenho um sonho, de que um dia esta Nação erguer-se-à e viverá o verdadeiro significado da sua crença...de que todos os homens são criados iguais”. A marcha de Washington foi o momento da esperança se tornar realidade, foi o momento em que se reconheceu que as pessoas poderiam mudar a história.

Dia 22 de Novembro de 1963, no estado do Texas, Dallas, 12:30 pm, a mulher do governador do Texas, Nellie Connally sentada à frente de Kennedy no carro que percorre a cidade, diz-lhe, “you can’t say Dallas doensn’t love you, Mr.President”, segundos depois seguem-se os tiros. Um anónimo filma a tragédia em filme Super 8.
Segue-se Lyndon Johnson na Casa Branca, 20.000 tropas já estão no Vietname. Em 1965, depois de uma visita a um lar de crianças abandonadas no Kentucky, o presidente declara guerra à pobreza.Contudo a sua presidência será eclipsada por outra guerra, o Vietname.
Arthur Lavine, East Harlem Play Street, New York City, 1967

Quando Lyndon Johnson sai da Casa Branca, no Vietname já estão mais de 500.000 tropas.
Seguem-se as manifestações contra uma guerra que se vê interminável.
Arthur Lavine, Crowd at Vietnam Moratorium Rally, Wall Street, New York City, 1969

Contudo os anos 60 terminam com a concretização de um sonho de Kennedy, os americanos pisam o solo lunar pela primeira vez .
Arthur Lavine, Crowd at Parade for Apollo 11 Astronauts, New York City, 1969

Richard Nixon, o primeiro presidente americano a demitir-se dirá “I will be know historically for two things: watergate and the opening to China”.
Contudo será ainda na sua presidência que os Estados Unidos vão sofrer pela primeira vez uma grave crise do petróleo. Durante a década de 50 um novo elixir, o petróleo, substitui o carvão. Durante duas décadas, um nova rede de auto- estradas com carros enormes a circularem, ligavam todos os Estados do país, a gasolina era barata e as grandes distâncias não eram problema. Em 1973, a (OAPEC), Organization of Arab Petroleum Exporting Countries, hoje (OPEP) e com um peso reduzido, cortam as exportações para a América por retaliação do apoio do país a Israel. Os americanos, sem reservas suficientes vêem-se a braços com uma economia assente nesse ouro preto, que agora custa o dobro.
Jerry Tomaselli, Chicago, 1974
Formam-se bichas de carros nas bombas de gasolina, Portugal passou pelo mesmo, a globalização já estava em marcha.
E passados 30 anos a situação está longe de ser resolvida, na quarta-feira passada receava-se que o Departamente de Energia americano anunciasse uma quebra nas reservas de gasolina, o que levou os futuros do ouro negro a dispararem para os preços mais altos de sempre, 78,4 dólares por barril. Afinal os stocks aumentaram, houve um certo alívio. Mas o que intriga ao fim destes anos todos é a ausência de alternativas ao ouro negro, continuando as economias dependentes da abundância ou ausência do produto no mercado.
Em Abril de 1975, na presidência de Gerald Ford, os últimos americanos são evacuados de helicópetro em Saigão, impressionantes estas últimas imagens. A guerra iniciara com Kennedy, terminava agora com Ford. Em 1979 é a revolução no Irão e o consequente corte de exportação de petróleo, o preço volta a subir. O Irão, durante décadas um aliado dos Estados Unidos, vive a revolução liderada por Ayatullah Ruhollah Khomeini que tomará o poder. Os Estados Unidos dão tratamento hospitalar ao antigo Xá. Poucos dias depois, a 5 de Novembro, 52 americanos da embaixada ficam reféns, por dias, semanas, meses...A tentativa de resgate com um helicópetro americano é desastrosa. Passados 444 dias são libertados.
Lavine está nas ruas de Nova Iorque para registar a chegada dos reféns ao país.
Arthur Lavine, Parade up Broadway for Iranian Hostages, New York City, 1981

No catálogo da exposição, Carol McCusker, refere, “nos seus tempos livres, Lavine fotografa os telhados, a demolição do “El”, a Third Avenue, que vê da sua janela”. Mas o “El”, faz também parte da história da américa, nos filmes de King Vidor, sobretudo em “The Crowd”, 1928, o “El” ao nível das janelas das casas tornava a vida dos nova iorquinos um inferno.
Estas foram as primeiras fotografias que vi sobre a demolição do “El”.
Arthur Lavine, Third Avenue El Train Station During Snowfall, New York City, 1951
Arthur Lavine, Under the third Avenue El During Demolition, New York City, 1955
Arthur Lavine, Truck Fire During Third Avenue El Demolition, N.Y.City, 1955

Agora, reformado, e a viver em San Diego, Lavine dedica-se a fotografar abstrações, quatro décadas de história é muito...

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