segunda-feira, agosto 13, 2007

O Mundo em imagens

Bolsas de valores e montanhas russas assemelham-se nas emoções que provocam. Na subida é o riso de alegria, na descida é o grito do medo, no final ninguém resiste à tentação de voltar a formar bicha para uma nova viagem.

Na semana passada, a descida das bolsas e os gritos de medo que a acompanharam foram provocadas pelo mercado imobiliário americano. A subida foi longa, cinco anos, e especulativa. Tinha que descer e desceu. Foi o pânico em todas as bolsas. A lenga lenga do costume: não ponha todos os ovos no mesmo cesto, como os gestores da banca gostam de ensinar, já não funciona em épocas de crise, a correlação é elevada.

Na semana que passou, revistas e jornais encheram-se de imagens das bolsas. Lembrei-me de Andreas Gursky e a sua recente fotografia da bolsa do Kuwait.

Andreas Gursky, Kuwait Stock Exchange, 2007, C- Print

Agora para além da Europa, América e Ásia, os estados Árabes do Golfo Pérsico, Gulf Cooperation Council (GCC), Bahrain, Kuwait, Omão, Qatar, Arábia Saudita e União dos Emirados Árabes, entram na corrida das bolsas.
A transformação é visível, há 30 anos atrás, o Dubai, que lidera a corrida, pouco mais era que um deserto onde viviam tribos de beduínos.

René Burri, Abu Dhabi, United Arab Emirates, 1975

Hoje a miragem de um oásis no deserto é real. Dubai tornou-se na Hong Kong do médio oriente. O que mudou? A forma como se aplica o dinheiro. Há 30 anos o dinheiro do petróleo era transferido para os bancos da Suiça e gasto na compra de armas. Agora uma nova classe política diversifica para além do petróleo a economia da região, e os investimentos do sector privado passaram de 10% para 60% nos últimos 10 anos. A par deste desenvolvimento económico, extravagantes projectos turísticos estão em curso. Em 2004 foi criado o Abu Dhabi Tourism Authority (ADTA). O que fazer para aumentar o turismo? Depois de semanas de “brainstorming” a resposta era simples, arte e educação. O Sheik bin Tahnoon al-Nahyan conta “In all the studies we have undertaken, culture has been shown to be a strong driver of the kind of tourism Abu Dhabi has identified as its primary market...”
E identificada a variável para a promoção do turismo, lançaram-se na “compra de cultura”, seguiram para Paris e compraram a marca Louvre e Sorbonne, seguiu-se o Guggenheim, Yale,...depois foram a Bilbao estudar o sucesso do novo museu, que desde a abertura,1997, recebeu mais de 9 milhões de visitantes. Para replicar o modelo de Bilbao a ADTA contrata os melhores arquitectos, Frank Gehry, Zaha Hadid, Jean Nouvel são só os nomes mais sonantes diz Mubarak al –Muhairi, director de ADTA. Agora Saadiyat Island será a nova meca turística, museus, campos de golfe, 29 hotéis de luxo, uma biennal para as artes, enfim o paraíso na terra, pronto em 2012. As contas estão feitas e o sucesso é garantido.

Este ano no Dubai estreou a feira Gulf Air Fair, com o suporte do Dubai International Financial Centre. Martin Parr também foi e não deixou de fotografar um Dubai que mais parece Las Vegas, cidades rodeadas de deserto onde real e artificial já não se distinguem.
Martin Parr, DIFC, Gulf Art Fair, Dubai, 2007

Anthony Hopewell, room 852, Riviera Hotel, Las Vegas, Nevada, 2003


Bruce Davidson, "The New York Street", Las Vegas, 1997


O mundo transformou-se com as novas tecnologias. Hoje com um Photoshop produzem-se imagens reais que já não precisam do mundo real e quanto mais se imita o real, mais o mundo se transforma em artificial. Dubai é hoje exemplo, Saadiyat Island será num futuro próximo. Reproduzem-se clichés que vimos nos filmes, na publicidade, nos media em geral e vivemos satisfeitos num mundo que se assemelha cada vez mais a um décor.
Peter Fischli, David Weiss, Visible world, 2000

É a ambiguidade desta nova existência que interessa agora aos fotógrafos.
A publicidade invadiu o nosso imaginário, e agora desejamos viver como se fizessemos parte desse mundo imaginado.

Peter Bialobrzeski, Shangai, 2001

Peter Bialobrzeski, Shangai, 2001


Numa instalação vídeo, “Product Displacement”, 2002, de Filipa César, que está agora em exposição na Gulbenkian, “50 anos de Arte Portuguesa”, a artista filma como se os personagens que vemos vivessem nessa casa-catálogo.



Do vídeo, "Product Displacemente"de Filipa César, 2002


Como a própria refere no boletim de inscrição “...em pano de fundo, interessa-me apresentar cenários urbanos,..., que vão para além dos espaços funcionais e de passagem,..., para serem, espaços multidisciplinados aonde não só prevalece a indefinição das fronteiras entre privado, público e natureza mas também realidade e ficção (ex. Mega-centros comerciais autênticas aldeias dentro de cidades”.

Outros, como Thomas Demand, constroiem maquetes de espaços arquitectónicos, cópias de fotografias que vê nos meios de comunicação. Depois de fotografadas as maquetes são destruidas. É um novo mundo que parece descartável.

Thomas Demand, Kitchen, 2004


O mundo hight-tech e globalizado de Gursky é também manipulado, e perante as enormes fotografias o real é transformado em hiperreal.

Muitos dizem que o mundo se “Disneyficou”, pois é desenhado e construído como se fosse autêntico, e o que é agora autêntico parece-nos artificial.
Marion Faller, Ed Krier's Independence Day Display, Nokomis Parkway, Cheektowaga, New York, 1998

Olivo Barbieri, Shangai, 2001

Thomas Struth, Manzhouli, Inner Mongolia, 2002


Agora todos nós sabemos que a fotografia já não é a cópia do real, como durante anos se pensou que era, e quando olhamos para uma imagem interrogamo-nos: será uma miragem ?...

3 comentários:

Unknown disse...

Boa noite Madalena,

Sou estudante de Design da Puc-Rio, cursando o sétimo período. O trabalho de Alexey Brodovitch me interessa muito e está me servindo como referência para meu projeto conclusão. No entanto, estou encontrando dificuldade para encontrar material sobre o mesmo. Vi em seu blog que você tem conhecimento do assunto e gostaria de saber se teria alguma informação que pudesse me ajudar.
Meu email é quelpites@yahoo.com.br
Agradeço a atenção,
Raquel Pites

evols disse...

É bom voltar de viagem e reencontrar os seus posts. Na China existe uma firewall que impede o acesso a todos os blogs. É uma forma que o governo chinês encontrou de impedir o acesso dos seus cidadãos a formas de expressão individual... É sem dúvida um governo bastante estranho. Durante a minha viagem fotografei bastantes ruas e edifícios que dentro de um ano certamente já não existirão. é um ritmo alucinante de crescimento e de total renovação urbana. É pena é que a renovação das mentalidades dos governantes seja mais lenta...

Madalena Lello disse...

Carlos espero que post algumas das fotografias que tirou dessa sua viagem. Em relação à China, e ao firewall que impede o acesso aos blogs, em relação ao meu aconteceu uma história curiosa. Quase diáriamente dois ou três chineses, por vezes de cidades diferentes entravam no blog. Quando em Março escrevi um post "A fotografia na china actual" seguiu-se uma avalanche de entradas da China, e a partir daí nunca mais nenhum entrou...o tal firewall a funcionar..

Raquel irei responder para o seu e-mail