sábado, fevereiro 10, 2007

INGenuidades, Fotografia e Engenharia 1846-2006

Joan Fontcuberta, no seu livro Photography Crisis of History, pediu, a alguns especialistas na área da fotografia, as suas opiniões em relação a este tema. Na introdução, Revisiting The Histories of Photography, Fontcuberta escreve “the fact is that photography has arrived at the year 2000 beset by an apparent crisis of identity”, e apresenta oito questões sobre a crise porque passa a História da Fotografia para os convidados responderem.
Jorge Calado, não foi convidado, mas se o fosse INGenuidades responderia a todas as crises postas em aberto por Fontcuberta.
INGnuidades é uma das histórias possíveis da fotografia, como já em 2003, Pedras e Rochas em fotografia, exposição encomendada pela Fundação Eugénio de Almeida a Jorge Calado, o tinha sido.

Na presente exposição tudo foi cuidado ao pormenor: os sons que se fazem ouvir ao longo da sala que completam o que vemos, o uso de diferentes cores consoante as especialidades da engenharia, e por fim o jardim da Fundação.

Na Engenharia Hidráulica temos este azul e


esta vista para o jardim.




Entremos agora no mundo das engenharias.

Começemos com uma das engenharias mais antigas, a mineira. O meu olhar fixou-se na Pepita de ouro com 202 onças de Carleton Watkins (1829-1916).


A pepita de ouro de Watkins, leva-nos para uma aventura, que ainda hoje é das mais fascinantes da história do Oeste americano, a mítica corrida ao ouro no ano de 1848. Confirmada a existência deste precioso metal na região da Sierra Nevada na Califórnia, logo os jornais da época divulgavam a descoberta. Em Dezembro de 1848, no Philadelphia Sunday, lia-se a seguinte notícia “ Here is El Dorado, of which Ponce de Léon and his companions so vividly dreamed...”. Se a população da Califórnia, antes de 1848 se reduzia quase a mexicanos (c.12 000) e nativos (c. 20 000), os Yankee, entre soldados e colonizadores não eram mais de 2 000. Em 1850 ultrapassavam os 100 000. Chegar lá não era fácil, a Central Pacific Railroad, uma obra magnífica da engenharia, só terminaria em 1869. Chegavam de barco e atracavam na baía de S.Francisco. Era daí que os aventureiros partiam para o sopé da Sierra Nevada. Watkins entusiamado com a nova terra prometida, deixa Nova Iorque, onde vivia, e vai para a Califórnia. Em 1854, Watkins já se estabelecera como fotógrafo em S.Francisco. A cidade cresce com a corrida ao ouro, e cresce tal como as crianças a ser fotografada, por coincidência a fotografia foi inventada na precisa altura em que a Califórnia começava a ser colonizada. Se hoje Watkins, é mais conhecido pelas fotografias que tirou da cidade e do Yosemite Park,


Best View, Yosemite,1865,C.Watkins

S.Francisco c.1865, C. Watkins

Watkins também fotografou extensamente a região mineira da Sierra Nevada.

Mining in Boise c. 1860.C. Watkins

Sierra Nevada Mining, c.1860, C. Watkins

Eu não conhecia esta preciosa Pepita de ouro, aparentemente tão simples mas símbolo desta magnífica aventura que foi a colonização do Oeste Americano.

É graças à grande comercialização das suas fotografias, que hoje as podemos ver. No folheto, distribuido a quem visita a exposição lê-se: “O terramoto de São Francisco em 1906 foi a primeria grande catástrofe a ser extensivamente documentada pela fotografia, da terra e do ar: 80% da cidade destruída pelo tremor e fogo, ¾ da população sem abrigo”. Pode-se acrescentar, o terível terramoto de 1906, destruiu na totalidade os arquivos de Watkins.

E terminemos as minas com esta mais recente de Edward Burtynsky, Minas #22, mina de cobre Kennecott Bingham Valley no Utah em 1984.


E é Edward Burtynsky, que nos leva agora para a Engenharia Naval, para olharmos para estas duas fotografias a que deu o nome de Quebrando Navios, Chittagong Bangladesh 2000, a outra tirada em 2001. O trabalho de Burtynsky interessou-me particularmente, não o conhecia.



Ainda nos mares mas num local mais escurecido, porque as albuminas não gostam de luz, encontramos a fotografia de Robert Howlett(1832-1858), Isambard Kingdom Brunel, 1857, carte de visite. Fotografia largamente reproduzida nas Histórias da Fotografia, sempre em grande formato. Foi a primeira vez que vi um original e fiquei surpresa com esta minúscula carte de visite.



Beaumont Newhall, também a edita na sua History of Photography e escreve: Robert Howlett, Isambard Kingdom Brunel, builder of the steamship “Great Eastern”, Standing Against the Launching Chains, 1857. Albumen print. George Eastman House, Rochester, N.Y., Newhall não nos dá as dimensões.


Veio-me à memória o Musée Imaginaire de Malraux.

Passemos agora para o presente, e na Engenharia Civil olhemos para La Courneuve Implosion 8 June 2000, de Mathieu Pernot.


“O ciclo vital das engenharias – criação, destruição, reciclagem-.”Aqui olhamos para a destruição, o método de implosão, utilizado pela engenharia.
Mas a implosão não é só do edifício, é também a implosão dos sonhos que prometeram a estas famílias que foram para aí viver.

Le Scandale des mal-logés. La Courneuve, 1952, Jean-Philippe Charbonnier

Os arquitectos queriam um mundo geométrico, perfeito...

Untitled (Reprodução de postais, da série “o melhor dos mundos” Anos 1950/2006.

Mathieu Pernot

Neste momento vou perguntar ao leitor o seguinte: Sabe localizar estas fotografias de André Kertész na exposição? é evidente que só pode responder quem já a viu.

Arm and Ventilator, New York,1937, André Kertész
Clayton "Peg Leg" Bates, Paris, 1929, André Kertész

Será na Engenharia mecânica?
No Corpo Prolongado?


Secção do Corpo Prolongado na exposição

Não, Kertész, não está na exposição e não é nenhuma crítica à sua ausência, antes é percebermos a tarefa àrdua do comissário, na selecção das fotografias a integrar na exposição.

Espantosa a organização desta exposição, quem esperaria ver Robert Frank na Engenharia Eléctrica?

Um monumento à Electricidade + Fotografia, 1976, Robert Frank

Do lado direito desta fotografia de Frank, fica “Árvore a Arder” de Dean Sewell, única fotografia da exposição com a descrição mais longa: “A combustão de uma árvore aparentemente morta (que suga o ar, causando um vácuo) espirrando faúlhas e brasas incandescentes, depois dos fogos que assolaram a capital da Austrália, Canberra a 18 de Janeiro de 2003. Ao longe, vê-se o engarrafamento de trânsito, com os condutores a procurarem escapar aos detritos em brasa que voavam por todo o lado”.

Não vou mostrar a fotografia, antes criar a vontade de quem ainda não foi à exposição de a ir ver.

Exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, de 9 de Fevereiro a 29 de Abril 2007

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