sexta-feira, fevereiro 02, 2007

"In the Face of History" exposição no Barbican Art Gallery

Passava um mês de ter inicado este Blog, e no post Debates da Fotografia, uma conferência promovida pela feira de Arte Lisboa, na qual o debate acabou num desenrolar de interrogações, dei-me conta a explicar ao leitor, a razão que me tinha levado a iniciar o Blog, “...julgo que o que nos falta por vezes é um “click” para entrarmos nesta teia maravilhosa que é a história da fotografia...”. Um dos prazeres da fotografia, e senão o maior, é que ela funciona por memórias e associações, e dei o exemplo como este prazer, das memórias e associações levou Madonna a iniciar a sua colecção de fotografias.

Na semana que terminou, terminou com ela, uma exposição, In the Face of History, European Photographers in the 20th Century, que teve lugar na Barbican Art Gallery, em Londres. Kate Bush (que fará parte do júri que decidirá o vencedor do Bes Photo) e Mark Sladen escolheram, para a exposição, fotografias de 22 fotógrafos, muitos deles pouco conhecidos. A exposição, assente numa linha cronológica, começava em Atget e terminava em Seiichi Furuya. Representar um século de imagens europeias é tarefa espinhosa e fácilmente criticável, falta sempre alguém que gostariamos de ver e que não está lá. A crítica inglesa, por exemplo referiu-se á reduzida representação britânica. Estamos em Londres, e Bill Brandt que tanto a fotografou é omitido. É um escândalo o que os comissários querem provocar? Quer esta exposição inventar um novo mapa alternativo à história da fotografia? Ou será como escreve Wiebke Leister na revista Source, “...It is to be hoped that the viewers of this exhibition are informed enough to be able to make up their own minds (lá está um dos prazeres da fotografia a ser chamado a funcionar) in order to appreciate the 22 works on display as useful additions …”.

A história da exposição dividia-se em quatro, na última, The End of History (1989-2005) Wolfgang Tillmans (n. 1968) é um dos quatro fotógrafos representados.

Tillmans é alemão e vive em Londres. Gosta de fotografar os amigos, paisagens e as coisas banais que acontecem no seu dia a dia. Não se preocupa com a iluminação nem com a focagem nem tão pouco se importa com a qualidade da prova, podiam ter sido reveladas na loja de fotografia do bairro.
Mas Tillmans gosta de instalar as fotografias, de vários formatos, de forma aleatória na parede. A fita cola é um dos recurso de Tillmans para as fixar na parede.

Os comissários optaram por montar na galeria Barbican a exposição Markt (1989-2005) de Tillmans na galeria Meerrettich, em Berlim. E replicam a galeria dentro da galeria.







Fotografias no Barbican Art Gallery, 2007

Em 2004, o museu d’Orsay em Paris, na exposição New York et l’Art Moderne; Alfred Stieglitz et son cercle, replica com base numa fotografia da exposição de Brancusi em 1914,



Exposição de Brancusi em 1914, na 291


nas Little Galleries, a galeria de Stieglitz em Nova Iorque. É a galeria dentro do museu.



Exposição no Museu D'orsay, 2004


Stieglitz (1864-1946), com costela alemã, não está representado na exposição, mas foi como se estivesse.

Apple tree (c) 2004 de Tillmans, num processo de memória e associação, levou-me a Lake George, 1922 de Stieglitz.




Apple Tree, Wolfgang Tillmans, 2004


Lake George, Alfred Stieglitz, 1922

No livro de Seligmann, “Afred Stieglitz talking”, ele escreve : “...Stieglitz, had gone out seeking to put his feeling into a form and had seen a little apple tree, standing before the barn near the house on the Hill”. “The apple trees at Lake George were dying. If the little of the love his father has bestowed on the apple trees had been given them by the family, the trees would not now be dying. The family talked about their love of good apples but instead of caring for the trees, spent money on golf, amusements, automobiles etc…”.
Tillmans adopta outra forma para nos transmitir o que sente pela macieira que ele vê da janela da sua casa de Londres, põe um post-it e escreve please leave this one.



Please d'ont take this one, Wolfgang Tillmans, 2003

E da janela do seu atelier em Újezd street, Josef Sudek refugia-se dos Nazis que ocupam Praga em 1939. Impossibilitado de fotografar a cidade, o seu mundo fica confinado ao que vê da janela do seu pequeno atelier



Early spring - morning, Josef Sudek, 1940-1954


e às naturezas mortas que compõe dos restos das suas refeições: cascas de ovo, copo de água, pão...


Still Life with eggs, Josef Sudek, 1950



Still Life with glass and eggs, Josef Sudek



O segundo capítulo da exposição Second World War 1939-1945, inicia com Sudek e as fotografias que vemos são deste periodo em que Sudek se refugia no seu mundo interior.

Tillmans, também fotografa naturezas mortas que compõe dos restos das suas refeições e acrescenta-lhe coisas: cascas de ovo, garrafa de àgua, detritos, ...

Wolfgang Tillman

No prefácio do catálogo lemos o seguinte: “The blasted trees that Josef Sudek photographed in the ancient Mionsi woods in the 1950s might have seeded Jitka Hanzlová’s Bohemian Forest, in the 1990s”, as fotografias dela antecedem as últimas da exposição, de Seiichi Furuya, eu teria terminado com o trabalho Forest de Hanzlová. Hanzlová é a nova geração, e que não esqueçe a história de um passado recente, porque é aí que assentam as suas raízes, contudo Hanzlová dissipa do nosso horizonte a obscuridade porque passou a Europa no século XX. É reconfortante olharmos para Forest.


Forest, Jitka Hanzlová, 2005

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