terça-feira, fevereiro 06, 2007

A Agência VIVA

Ao consultar a programação do Jeu de Paume em Paris, chamou-me a atenção a exposição que inaugurou no passado dia 30 e que estará até ao dia 8 de Abril.
Tinha lido na internet, há uns dois anos, um artigo, Viva, une alternative à Magnum? publicado na revista Études Photographiques de Novembro 2004, (na altura a revista ainda publicava os textos no site) e esse artigo era o resultado de um trabalho de investigação realizado por Aurore Deligny, (Les années Viva, 2002) que o apresentou como tese de fim de curso na escola ENS Louis –Lumière.
O Jeu de Paume, sábiamente percebeu a importância do trabalho: tratava-se de dez anos de imagens, 1972-1982, que faziam parte da história do fotojornalismo em França, e que estavam prestes a cair no esquecimento total.
De louvar esta atitude, em que o projecto da presente exposição assenta no essêncial na tese de Deligny, e que dá vida novamente a uma época, através das fotografias de Viva.
Para nós em Portugal, Viva talvez não nos diga absolutamente nada, embora alguns dos seus fotógrafos tenham vindo fotografar Portugal.
No ano da criação de Viva, Fevereiro de 1972, encerravam duas das mais importantes revistas de reportagens fotográficas, a Life (1972) e a Look, esta encerra em 1971.


Logotipo da VIVA

Numa época em que a televisão é a verdadeira concorrente, todos os acontecimentos chegavam aos lares de uma forma muito mais rápida, quem eram então estes repórteres corajosos, que criavam mais uma agência?

A Magnum existia desde 1945, a agência Gamma em 1966, e a Sipa em 1969: Estas últimas, representavam uma nova geração, em que os fotógrafos perdiam os direitos das suas produções, ao contrário da Magnum. Outras a Dalmas e Apis fecham no início de 70.
Os fotógrafos de Viva, jovens entusiastas, com trabalhos publicados, não conseguiam, no entanto entrar na mítica Magnum. Pertenciam à geração de Maio de 68 e desejavam trabalhar numa estrutura coorporativista, semelhante à Magnum. Entre as notícias da actualidade, grandes reportagens e criatividade, a produção destes fotógrafos resultava normalmente numa pesquisa pessoal.


Membros da VIVA a trabalharem

Mas Viva seria uma alternativa à Magnum, como refere o artigo citado?
Claramente não. O seu desmoronamento acontece precisamente na altura em que a Magnum abre as portas aos mais jovens, e é a debandada. Mas o que ficou de Viva?
Diferentemente da Magnum, que cobria os aconteceimentos de todo o mundo, os fotógrafos da agência Viva ficaram por França, em parte devido às constantes dificuldades financeiras com que a agência se debatia. Um dos trabalhos que mereçe destaque na exposição é “Familles en France” de 1973, único projecto verdadeiramente comum.

Esta revista editou "Famille en France"

"Familles en France" 1973
Sob o entusiasmo de François Hers, cada um dos fotógrafos partiu à descoberta da verdadeira família francesa, e viveram durante meses em casas de famílias. O que encontraram era muito diferente da família esteriotipada divulgada na imprensa. As fotografias de “Familles en France”, como sucede frequentemente, são apreciadas pelos que estão de fora, porque os franceses não gostaram. Com o intuito de divulgar a agência em França e também no estrangeiro, Viva organizou “Familles en France” numa exposição itinerante acompanhada de catálogo. Das três mil fotografias a preto e branco foram seleccionadas cem para a exposição.

Quando em França, surgiam as primeiras notícias do “coup d’Etat militaire”, ocorrido em Portugal, foi a concorrência feroz entre as agências. Gamma, Sipa, Sygma criada entretanto em 1973, Magnum, Viva, correram para cá. Na newsletter da exposição, François Hers, um dos fundadores da Viva, é o autor de Lynchage, Braga, Portugal, 1975.

Lynchage, Braga Portugal, 1975, Francois Hers

Guy Le Querrec, outro dos fundadores da Viva, quando em 1975 veio a Portugal fotografar a revolução, ainda não pertencia à Magnum, só seria eleito membro em 1977. Recentemente vimos estas fotografias na exposição Espelho Meu, Portugal visto por fotógrafos da Magnum, exposta no verão de 2005 no CCB. Guy Le Querrec fotografa a Aldeia das Pias, no coração do Alentejo, vai a Castro d'Aire afim de registar as imagens de um novo quotidiano, e regressa em 1998 em busca das pessoas que fotografara.
Em 1975, Guy Le Querrec deixa a Viva, mas “ quitter Viva était une décision difficile car c´etait une étape importante”. Curiosamente, na biografia do catálogo editado na altura da exposição, é omitida a sua ligação à Viva. Esquecimento? É prepositado?, não sei explicar. Na biografia , Viva não existe no percurso deste fotógrafo.

Mais tarde, outros fotógrafos juntaram-se à Viva. Jacques Minassien, que em 1973 começa um trabalho em Portugal, entra para a agência em 1975 e deixa-a em 1977. Bolseiro em 1977 e 1981 da Fundação Gulbenkien, onde expõe em 1978, 51 das suas fotografias. Em, Novembro de 1982, vem a Portugal quando a galeria Ether – Vale tudo menos tirar olhos, organiza uma retrospectiva do seu trabalho.

Catálogo desdobrável


No texto que Gérard Castello Lopes, escreve no cartáz/catálogo da exposição O Fotógrafo sem qualidades, Castello Lopes diz o seguinte em relação às duas fotografias escolhidas para o cartáz: “ Cada fotografia de Jacques Minassien (a da marginal em Caxias, a da cortina translúcida sobre uma janela, por exemplo), tenta mostrar o que é e o seu contrário, seleccionar um espaço que sugere que foi excluido, um instante que evoca o que o precede e o que seguirá”.

A exposição no Jeu de Paume, VIVA, une agence de photographes: 1972-1982, vem repor o que se esqueçeu.

1 comentário:

Anónimo disse...

O jacques desapareceu?