sexta-feira, janeiro 26, 2007

Olhares Estrangeiros

Até dia 29, a Photographers’ Gallery em Londres apresenta Domestic Landscapes uma exposição de fotografias de Bert Teunissen. Teunissen nasceu em 1959 em Ruurlo na Holanda e há dez anos percorre aldeias espalhadas pela Europa, fotografando um modo de vida rural que ele pressente estar em vias de desaparecer. Atget fotografou o que ele pressentia desaparecer em Paris, Vitor Palla e Costa Martins fotografaram os últimos aguadeiros de Lisboa, Ansel Adams fotografou o Yosemite Park na sua quietude, antes da invasão dos turistas, o casal Becher dedicou-se a fotografar uma arquitectura industrial em vias de desaparer, Teunissen fotografa uma vida rural condenada a desaparecer nos dias de hoje. Ao longo da historia da fotografia é constante o fascínio pelo que está na iminência de desaparecer.

Várias aldeias de Portugal, Azurara, Vila Chão, Meirinhas, Mazouco, cativaram Teunissen. Itália, Espanha, França, Holanda, Grã-Bretanha, Alemanha, são outros países que Teunissen também fotografou.





Azurara, Portugal, Bert Teunissen







Fotografias da exposição de Bert Teunissen

Vi primeiro as fotografias sem ler as legendas, confesso que não consegui distinguir no meio das outras, as aldeias portuguesas.

O fotógrafo Hans van der Meer, também holandês interessa-se pelos clubes de futebol amador. Será que Meer também pressente o desaparecimento destes clubes?
Partiu pela Europa à procura destes pequenos clubes de amadores, e publicou no ano passado um livro sobre o tema. Portugal também o captivou. No livro a excepção recai no clube de futebol da Cumieira com duas fotografias, uma do campo com os jogadores, o padrão de todas as outras, e uma outra em que o campo de futebol é visto no contexto da paisagem. O que terá captivado Meer na Cumieira? Um campo de futebol no meio dos sucalcos das vinhas?. Esta aldeia fica situada ao longo de uma estrada de curvas que liga Santa Marta de Penaguião a Vila Real e por coincidência é a terra dos meus bisavós.

“(...) Sempre houve uma obsessão bem portuguesa em saber como os outros nos vêem ou o que pensam de nós” diz-nos Jorge Calado no catálogo da exposição “1839-1989, um Ano Depois”, realizada em 1990 na galeria Almada Negreiros em Lisboa.

Muitos fotógrafos passaram por Portugal na década de 50 Jean Dieuzaide, Cartier –Bresson, Thurston Hopkins, Edouard Boubat, Chris Marker, Agnés Varda, Sabine Weiss...Na década seguinte, continuaram a passar por Portugal outros fotógrafos, Irving Penn, Brett Weston, Alma Lavenson....

Em 1968, Neal Slavin recebe uma bolsa e vem para Portugal no âmbito da fotografia arqueológica. Em paralelo com a documentação arqueológica tira outras que resultam numa exposição em Nova Iorque, Underground Gallery, e no primeiro livro, Portugal, editado pela Lustrum Press em 1971.

Com a revolução dos cravos em 1974, voltam os “olhares estrangeiros”, desta vez com o olhar dos foto-repórteres das agências da actualidade, Magnum, VIVA, Gamma. São eles, Guy le Querrec, Sebastião Salgado, Gilles Peress, Josef Koudelka, Jacques Minassian, Jean Gaumy e muitos outros que testemunharam estes anos da revolta.
Em 2005, a exposição Espelho Meu – Portugal visto por fotógrafos da Magnum comissariada por Alexandra Pinho e Andréa Holzherr , deram-nos a ver muitos destes fotógrafos até aos trabalhos recentes de Martin Parr. Josef Koudelka, Susan Meiselas e Miguel Rio Branco foram convidados para interpretarem o país em 2005.



Casamento Popular, Trás-os-Montes,1964, Thomas Hoepker


Comemoração do 1ºde Maio, 1975, Guy Le Querrec




Período revolucionário, 1974, Gilles Peress
Mário Soares, 1975, Jean Gaumy




Miguel Rio Branco, 2005

Em 1989, a SEC ( Secretaria de Estado da Cultura) teve a decisão exemplar de constituir uma Colecção Pública de Fotografia e de atribuir essa tarefa difícil, em virtude do orçamento limitado e “a um campo de acção enorme: 150 anos de olhares diversos espalhados pelo mundo inteiro”, a Jorge Calado. Como ele refere “ houve o esforço sistemático de trazer para Portugal os olhares que daqui saíram – as fotografias feitas no nosso país por importantes fotógrafos estrangeiros.”
Na sua qualidade de organizador e iniciador desta colecção, Calado entrou em contacto com Neal Slavin para a aquisição de algumas das suas imagens. É deste esforço que em Novembro de 1990 a Fundação de Serralves com a colaboração de Neal Slavin, expõe as imagens deste fotógrafo sobre Portugal.



Livro Catálogo da exposição de Neal Slavin em Serralves, 1990



Neal Slavin, Portugal

No ano passado foi a vez de se apresentar o importante núcleo de fotografias de “olhares estrangeiros” pertencentes à Colecção de Arte da Caixa Geral de Depósitos. Ver o post “As exposições do ano 2006”, de 3 de Janeiro.



Harry Callahan, Portugal, 1982



Brett Weston, Telhados, Portugal, 1960

Já tiradas neste século, a Caixa adquiriu um conjunto de quatro imagens de David Stephenson que veio a Portugal à procura de zimbórios, parte de um projecto que o levou aos quatro cantos do mundo.
Voltando a Teunissen e Meer, Portugal parece estar nos itinerários destes fotógrafos que percorrem a Europa e o Mundo atrás dos temas que os cativam. Felizmente não veem a Portugal só por convite.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estive nesta exposição, parte da qual já esteve no Museu da Imagem em Braga. É um trabalho muito bonito e bastante pertinente. Curiosamente, das fotografias expostas, consegui distinguir duas como sendo tipicamente portuguesas. Acho que foi das vestes negras e dos fumeiros...