quarta-feira, dezembro 20, 2006

Bound for Glory - America in Color 1939-1943

A fotografia a cores sempre seduziu, mesmo os mestres do preto e branco. Agora no século XXI somos seduzidos por essas fotografias que ficaram arquivadas e ignoradas do público.

The Photographer’s Gallery em Londres inaugurou no passado dia 8 a exposição, “Bound for Glory, America in Color 1939-1943” que ficará até 28 de Janeiro de 2007. Projecto da responsabilidade da Biblioteca do Congresso, estão em exposição as fotografias a cores dos fotógrafos que pertenceram à FSA (Farm Security Administration) e OWI (Office of War Information). Em 2004, foi editado o livro, pela Harry N. Abrams, Inc em colaboração com a Biblioteca do Congresso.

Passados um ou dois anos, não me recordo, da inauguração do Centro Georges Pompidou, foi onde vi pela primeira vez as fotografias da FSA. Na altura, não sabia o que era a FSA, nem tão pouco tinha visto alguma das fotografias.

Inaugurado em Janeiro de 1977, o Centro Pompidou era inovador. Projecto assente na pluridisciplinaridade da arte moderna e contemporânea, os arquitectos (Renzo Piano e Richard Rogers), associados ao engenheiro Peter Rice, idealizaram um edifício como um espaço poroso entre interior/exterior, porosa também era a arte da altura. Com acesso directo, como um prolongamento da rua em altura, através das escadas rolantes, chegava-se ao topo, onde nos aguardava uma vista panorâmica da cidade, hoje condicionado aos visitantes do museu. No interior, a porosidade entre os diversos pisos funcionava como uma espécie de laboratório de experiências. Conseguiamos ver, de qualquer ponto o que se passava nos outros espaços. Foi assim, que ao subir um lançe de escadas me apercebi, ao olhar para baixo, de uma exposição de fotografias. Que sorte, era a retrospectiva da FSA. Pela primeira vez via Walker Evans, Dorothea Lange, Russell Lee, Ben Shahn, Carl Mydans, John Vachon, Arthur Rothstein, Marion Post Wolcott, John Collier, ....

Eram as fotografias dos anos da seca e da depressão económica em que a América vivia tempos difíceis. O governo de Rossevelt, através do programa New Deal, tentava fazer face aos problemas do país. A FSA criada como objectivo político, pelo Departamento de Agricultura, pretendia convencer o Senado e os americanos, da urgência em por em prática medidas que visavam ajudar os agricultores. Como um mal nunca vem só, não bastou a sexta-feira negra que se viveu em Wall Street, veio também os anos de seca no Midwest. O grande celeiro da América, ficou reduzido a poeira. Agricultores deixavam as suas terras e migravam para outros estados, a Califórnia foi invadida.


Holtville, Califórnia, 1937, Dorothea Lange

A fotografia de Dorothea Lange, Migrant Mother é hoje o símbolo dessa migração.

Migrant Mother, Califórnia, 1936, Dorothea Lange


Em 1935, sob a orientação de Roy Stryker, estes fotógrafos, que trabalharam em tempos diferentes enquanto durou os oito anos do projecto, partiram pela América a fotografar a população rural. Hoje são mais de 160 000 fotografias que estão na Biblioteca do Congresso e acessível a todos.
Robert Frank, chamou de “humanity of the moment”. Hoje é um dos maiores documentos da nação, porque os fotógrafos não se limitaram a servir a propaganda política (no bom sentido). Se os esforços de Stryker na divulgação das fotografias para convencer o Senado em ajudar estes agricultores foi notável, com a recuperação económica as fotografias da FSA repousaram nos arquivos. Sempre a preto e branco, só começaram a ser divulgadas através de exposições e livros na década de 1970. A descoberta das cerca de 1 600 fotografias em Kodachrome arquivadas na Biblioteca do Congresso é recente.

A cor não distrai, como sempre se pensou da fotografia a cores: “If you can’t make it good make it red”, era o slogan do meio publicitário.

Pelo contrário, a cor em “Bound for Glory”, revela-nos uma mais valia em informação.

Se em época de crise, a variedade escasseia, o preto e o branco serviam na perfeição para a dissimular. Mesmo com legendas, viamos nas toranjas e laranjas a mesma fruta. As cores não nos distraem, acrescentam.

Lincoln, Nebraska, 1939-1943, John Vachon

Greensboro, Alabama, 1936, Walker Evans


A cor, funciona como as informações arqueológicas, são de uma riqueza inigualável.

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